O Tarot tem uma história bastante complexa, mas vou resumir para que o caro leitor entenda de modo simples e sem o uso de linguagem esotérica ou mística. O conjunto de lâminas mais antigo que se tem notícia remontam a época em que Florença e Veneza eram poderosas cidades-estados. Nelas floresceram os negócios internacionais, a criação artística e a política. Seus governantes e as famílias da nobreza promoviam a arte e a criatividade e foi nas referidas cidades em que apareceram os grandes artistas do Renascimento que todos conhecemos (Donatello, Michelangelo, Rafael, Sandro Botticelli…). E em meio a todo esse vulto renascentista, há seiscentos anos apareceu o Tarot pela primeira vez (como assim é conhecido), em forma de preciosas lâminas pintadas à mão, com ornamentos belíssimas, que à princípio, interpretaram para um uso lúdico.
Esse objeto artístico que se têm notícia era conhecido como o Tarot de Visconti-Sforza (imagem desse post), confeccionado por Bonifácio Bembo, por volta do século XV. Esse Tarot foi assim encomendado para as bodas da filha do duque de Milão, Bianca Maria Visconti, que no ano de 1441 casou-se com Francesco Sforza. Eis o porquê do nome. Mas há quem encontrou referências ainda mais antigas como Oswald Wirth (ocultista francês de 1888 e pesquisador, autor do Tarot com o mesmo nome) nos registros do sínodo de Worcester (esses registros se encontram na Catedral de Worcester, Inglaterra) que havia proibido os clérigos de terem acesso a um jogo conhecido como o “jogo do Rei e da Rainha”, em meados de 1200.
O que não sabiam é que o conhecimento contido nessas 78 lâminas, na verdade se tratava de uma codificação de sábios de outrora, que previram o início de um ciclo histórico de decadência moral e espiritual da humanidade, fazendo com que idealizassem um sistema extremamente sintético para preservar, de forma simbólica, o conteúdo essencial do seu conhecimento esotérico e iniciático, das formações e das manifestações da vida, criando um conjunto de imagens alegóricas, com atributos evolutivos e sintomáticos, organizadas com uma complexidade ornamental. O raciocínio era claro: os homens iriam entrar em uma fase de distração das preocupações espirituais. E por assim acontecer, não reconheceram as informações contidas nas lâminas, tratando-as somente de forma lúdica, como de fato foi utilizado por um bom tempo.
Séculos mais tarde, ocultistas do século XIX, perceberam nessas cartas, principalmente as 22 lâminas iniciais (Arcanos Maiores) uma série de importantes fatos e situações em forma de emblemas e alegorias, que ao contrário do que pensavam ser destinados a distração, tais lâminas guardavam todo um sistema de símbolos cujo conjunto constituiria uma verdadeira “chave dos mistérios”, o segredo da real natureza do homem e das Leis Universais (Lei de Causa e Efeito). Descobriram um extraordinário meio educativo e elucidativo, mostrando a ordem e a edificação do Universo, que se colocadas em ordem, demonstram que o homem pode, progressivamente, elevar-se na ordem espiritual. Indo mais além, cada Arcano Maior simboliza um degrau a ser vivenciado na escala evolutiva, para se chegar ao patamar seguinte. Quanto mais se usa o Tarot, mas se acessa o autoconhecimento. É de inegável eficiência prática e resiste perfeitamente à análise a partir dos parâmetros teóricos da moderna parapsicologia, que estuda os mecanismos dos processos paracognitivos. Esse sistema de lâminas contendo figuras, desenhos, signos e sinais de significado simbólicos universais, atraiu estudos e investigações sérias, com sólido embasamento científico, como Carl Gustav Jung, um dos nomes mais importantes no desenvolvimento da Psicologia. Grande interessado na ciência dos símbolos, esse psicólogo sabia que os significados atribuídos aos mesmos variam no transcurso dos séculos. Mas essas modificações referem-se, na maioria das vezes, a elementos de detalhe. Historicamente constata-se que, em conjunto, os valores simbólicos são constantes. Por outro lado, esse problema supera os limites da história da adivinhação e se relaciona, de maneira geral, com a história das religiões e com a psicologia dos povos e dos indivíduos. A partir dos estudos dos símbolos nas distintas crenças e nos principais mitos e lendas da humanidade, unido à sua experiência clínica como psicólogo, Jung montou a Teoria do Inconsciente Coletivo. Segundo ela, tudo acontece como se cada indivíduo deitasse suas raízes psíquicas num fundo comum a toda a espécie humana. Essa descoberta, que revolucionou a moderna psicologia, parecia ser já do pleno conhecimento dos sábios de outrora que criaram o Tarot. As figuras simbólicas representadas nas cartas repercutem de tal forma no psiquismo profundo, que a pessoa que as contempla e sabe refletir sobre elas sente surgir do âmago de si mesmas as respostas desejadas.
Em suma, o Tarot é uma ferramenta para mergulhar em profundidade no inconsciente. Num momento histórico em que os processos que estabelecem a ponte consciente-inconsciente, aparecem como a grande alternativa para subtrair o homem da grande crise filosófica e psicológica que submerge a humanidade, tendo melhores chances de se posicionar na atual realidade que o envolve, conhecer melhor sobre sua postura, sobre si mesmo como alternativa para o autoconhecimento, o Tarot é um sistema que merece ser considerado de uma forma muito mais ampla e séria acerca da eficiência de seus prognósticos e funcionalidades terapêuticas.